No alto da colina mais distante da cidade, havia uma casa que ninguém ousava visitar. Era antiga, com janelas quebradas e paredes cobertas de hera. Contavam histórias de desaparecimentos, sombras nas janelas, e até mesmo vozes que sussurravam quando o vento passava por suas frestas. Para Mariana, estudante de jornalismo, essas histórias eram um convite irresistível.
Numa sexta-feira à noite, ela decidiu investigar. Com uma lanterna em mãos e seu caderno de anotações na mochila, caminhou em direção à colina. A lua cheia iluminava o caminho, mas cada galho que se movia no vento fazia seu coração acelerar. Mariana fingia coragem, mas sabia que estava sozinha — ou pelo menos queria acreditar nisso.
Ao chegar à porta da casa, encontrou-a entreaberta. A madeira rangeu sob seus pés enquanto ela entrava. A lanterna revelou móveis cobertos de poeira, quadros pendurados tortos e um relógio de parede parado exatamente às 23h14.
Explorando os cômodos, Mariana encontrou uma sala de estar com uma lareira cheia de cinzas antigas. No chão, havia marcas de arranhões como se algo pesado tivesse sido arrastado. Seguindo as marcas, chegou a um alçapão parcialmente escondido sob um tapete desgastado.
Ela hesitou. O silêncio da casa era tão intenso que podia ouvir seu próprio coração batendo. Com esforço, abriu o alçapão, revelando uma escada que descia para a escuridão.
— Nada como um bom clichê de filme de terror — sussurrou para si mesma, tentando aliviar a tensão.
Desceu os degraus com cuidado, e a lanterna revelou um porão úmido, com paredes de pedra. No centro, havia uma mesa de madeira. Sobre ela, uma velha máquina de escrever, cercada por páginas amareladas espalhadas. Mariana aproximou-se e viu que cada página estava preenchida com a mesma frase repetida: "Saia daqui antes que seja tarde."
O som de passos ecoou atrás dela. Mariana congelou.
— Quem está aí? — gritou, tentando soar confiante.
A lanterna iluminou uma figura. Era um homem idoso, com cabelos grisalhos e olhos profundos, que a olhava com uma mistura de pena e preocupação.
— Você não deveria estar aqui — disse ele, em um tom baixo, mas firme.
— Quem é você? E o que está acontecendo nesta casa?
Ele suspirou, mas antes que pudesse responder, a máquina de escrever começou a funcionar sozinha. As teclas batiam furiosamente, e a mensagem na página se repetia: "Corra antes que ele volte."
O homem agarrou o braço de Mariana.
— Não há tempo para explicações. Precisamos sair agora.
Mas antes que pudessem subir as escadas, um estrondo ecoou pela casa, e a porta do alçapão se fechou violentamente. As luzes da lanterna começaram a piscar, e um som gutural preencheu o ambiente.
Mariana olhou para o homem, aterrorizada.
— Quem é ele?
O homem respondeu apenas com um sussurro:
— O dono da casa.
Naquele momento, tudo se apagou.
Quando Mariana acordou, estava no meio da colina, com o caderno em mãos. As páginas estavam vazias, e a casa na colina parecia mais distante do que nunca. Ela olhou para trás, confusa e assustada. Será que tudo tinha sido um pesadelo? Ou apenas o começo de um mistério que jamais deveria ser desvendado?
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