sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Sob o Sol da Baixada (CONTOS DA MEIA-NOITE)

 


O calor da Baixada Fluminense parecia eterno, fazendo o ar pesar sobre os telhados de zinco e as ruas estreitas. No centro da tensão, um homem chamado Vicente Braga comandava tudo com punho de ferro e um sorriso que escondia segredos sombrios. Conhecido como Tio Braga, ele era o chefão da máfia carioca que mantinha a região sob seu domínio, controlando desde o tráfico de drogas até esquemas de lavagem de dinheiro que atravessavam fronteiras.

Naquela manhã, no galpão discreto em Belford Roxo, Braga se reunia com seus capangas. A conversa girava em torno de uma nova rota para transportar drogas pelo Porto de Itaguaí. Mas ele estava inquieto. Não era a rota o problema, mas a sensação crescente de que estava sendo observado.

Ele tinha razão. Do outro lado da cidade, num apartamento alugado em Nova Iguaçu, a agente federal Alice Mendonça ajustava seus fones de ouvido enquanto ouvia, pela escuta plantada dias antes, cada palavra dita no galpão.

— Temos que nos livrar dos curiosos — disse Braga, sua voz grave cortando o silêncio na sala de escuta. — Um rato dentro do sistema vale mais que dez fora dele.

Alice franziu a testa. Era uma referência clara a informantes infiltrados. Sua equipe vinha trabalhando há meses para desmantelar o império de Braga, mas ele sempre parecia estar um passo à frente.

Enquanto isso, no galpão, Braga chamou sua sombra mais confiável, Ronaldo, conhecido como Naldo.

— Quero que descubra quem está falando demais — ordenou. — Se alguém da polícia se aproximar de novo, a gente corta o problema pela raiz.

Naldo assentiu sem hesitar. Ele era a mão direita de Braga, tão leal quanto perigoso.

Na mesma noite, Alice e sua equipe decidiram intensificar a investigação. Um informante dentro do círculo de Braga havia indicado que haveria uma grande transação na próxima semana, envolvendo milhões em drogas e armas. Era a chance que precisavam para pegá-lo.

No entanto, Braga já suspeitava do informante. Ele marcou um encontro no estacionamento de um supermercado abandonado em Duque de Caxias, levando Naldo e mais dois homens. Alice, acompanhada de outro agente, vigiava de longe.

Braga era astuto. Ele chegou primeiro e ficou no carro, observando. Quando o informante apareceu, o confronto foi direto.

— Achei que pudesse confiar em você — disse Braga, sacando uma pistola.

O homem tentou argumentar, mas Naldo foi mais rápido. Em segundos, o corpo estava caído no chão, e Braga ordenou:

— Limpem isso. E rápido.

Alice assistia a tudo de longe, com o coração disparado. Sabia que interferir ali poderia comprometer a operação inteira.

Nos dias seguintes, a tensão aumentou. A polícia federal monitorava o galpão, o porto e os passos de Braga. Ele, por sua vez, aumentava a pressão sobre seus subordinados, criando uma atmosfera de paranoia.

Finalmente, na noite da transação, Alice e sua equipe organizaram um cerco. No porto, os homens de Braga descarregavam contêineres cheios de armas e drogas, sem saber que estavam sendo vigiados.

Quando os federais avançaram, um tiroteio intenso começou. Braga conseguiu escapar por uma saída lateral, mas Alice o seguiu. Ele tentou fugir num carro, mas foi cercado em uma estrada de terra.

— Acabou, Braga — disse Alice, apontando a arma para ele.

Ele levantou as mãos lentamente, sorrindo.

— Você acha que isso termina aqui, agente Mendonça? Eu sou só uma peça no tabuleiro.

Alice o algemou, sem responder. Sabia que ele falava a verdade. Mesmo assim, aquela era uma vitória.

Na Baixada Fluminense, o sol continuava queimando as ruas. Mas agora, uma sombra menor pairava sobre a região, enquanto o império de Braga começava a desmoronar.

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