A perda chega como um visitante inesperado. Ela não bate à porta nem avisa com antecedência. Apenas invade, com sua presença pesada e incômoda, mudando tudo de lugar. Naquele dia, foi como se o mundo tivesse desacelerado. O som das vozes ao redor parecia distante, como se viesse de um rádio mal sintonizado, e o relógio insistia em marcar um tempo que já não fazia sentido.
Perder é estranho. É como um buraco que se abre dentro de você e, por mais que tente preencher com lembranças, palavras ou até lágrimas, ele permanece lá. Um vazio que ecoa.
Lembro do cheiro de café na cozinha naquela manhã. Era como qualquer outro dia, mas não era. As notícias chegaram com a frieza de uma mensagem curta. Cinco palavras que mudaram tudo. Primeiro, veio a descrença. Depois, a dor — não imediata, mas crescente, como uma onda que se aproxima lenta, mas inexorável, até te engolir por inteiro.
A casa, tão cheia de histórias e risos, parecia maior naquele dia. Cada canto parecia guardar um pedaço do que foi perdido. O som do riso que não se ouvia mais, o eco de passos que não retornariam. Até os objetos, inanimados, pareciam testemunhas silenciosas de uma ausência gritante.
Ao caminhar pelo quarto, vi a velha poltrona que tantas vezes abrigou conversas sem pressa. No armário, as roupas ainda pendiam como se esperassem por um próximo dia qualquer. Mas os dias "qualquer" tinham se tornado raros. Tudo agora era carregado de significado.
E então veio o silêncio. Aquele silêncio que é mais alto do que qualquer grito. Ele sussurra todas as palavras que não foram ditas, todas as despedidas que não aconteceram, todos os momentos que poderiam ter sido.
Mas o tempo, com sua teimosia, segue. Ele não pergunta se estamos prontos. Apenas avança, empurrando-nos com ele. E, no meio da dor, descobrimos que a perda não desaparece. Ela muda de forma. Transforma-se em saudade. E a saudade, essa criatura estranha, é ao mesmo tempo dor e conforto.
Com o passar dos dias, comecei a encontrar vestígios de consolo nas pequenas coisas. Na memória de um sorriso, em uma música que sempre fazia rir, em um prato favorito preparado com a intenção de sentir a presença novamente, mesmo que só por um instante.
A perda ensina que viver é se despedir muitas vezes, mas também é carregar quem amamos em cada gesto, cada pensamento, cada decisão. Não, não é fácil. Mas, de algum jeito, o amor deixa marcas que a ausência nunca consegue apagar.
E assim seguimos, aprendendo a conviver com o silêncio que fica.
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