terça-feira, 17 de dezembro de 2024

O Escritório Invisível

 

Era mais um dia no trabalho. A mesma rotina: a mesa cheia de papéis que ninguém nunca lia, os e-mails que se acumulavam em um ritmo impossível de acompanhar, e a impressão constante de que, apesar de todo o esforço, nada realmente mudava.

Luísa havia começado naquela empresa cheia de sonhos. Era jovem, cheia de ideias e acreditava que podia fazer a diferença. Lembrava-se de como era fascinante imaginar projetos que impactariam vidas, pensar em soluções criativas e ver o brilho nos olhos dos colegas quando compartilhava suas ideias.

Mas os anos passaram. E, com eles, veio a realidade. As reuniões se tornaram um desfile de vaidades, onde as melhores propostas eram enterradas por egos inflados. Os projetos, que antes pareciam promissores, agora eram abandonados à primeira dificuldade, sufocados por cortes de orçamento ou burocracias sem fim.

Luísa começou a perceber um padrão. Quanto mais tentava inovar, menos era ouvida. Seu entusiasmo, antes contagiante, agora parecia incomodar. Era como se as paredes do escritório tivessem aprendido a absorver suas palavras antes que chegassem aos outros.

Certa vez, passou semanas preparando uma apresentação. Estudou, pesquisou, dedicou horas extras para garantir que cada detalhe estivesse impecável. No dia da reunião, seu chefe sequer olhou para os slides. "Boa ideia, mas temos outras prioridades", disse ele, antes de mudar de assunto. Foi nesse momento que Luísa sentiu a primeira rachadura em sua motivação.

Os dias se tornaram automáticos. Ela chegava, cumpria suas tarefas e ia embora. Havia um peso invisível que a acompanhava, uma sensação constante de que estava gastando suas energias em algo sem propósito. O brilho em seus olhos deu lugar a um cansaço que nem o fim de semana conseguia aliviar.

Mas o que mais doía não era a rotina repetitiva ou a falta de reconhecimento. Era a perda de si mesma. A Luísa sonhadora, aquela que acreditava em seu potencial, parecia uma lembrança distante.

Até que, em um dia qualquer, enquanto esperava o elevador no fim do expediente, ouviu uma conversa entre dois estagiários. Falavam com paixão sobre um projeto que estavam criando juntos, cheios de entusiasmo e esperança. Luísa se viu neles e sentiu uma pontada de saudade. Não do trabalho, mas da versão de si mesma que ainda acreditava.

Naquela noite, ao chegar em casa, olhou para o espelho e se perguntou: "Por que continuo aqui?" Não havia resposta fácil. O medo do desconhecido pesava. Mas, ao mesmo tempo, havia uma fagulha que começava a se acender novamente.

A frustração profissional, percebeu, era uma espécie de alerta. Uma maneira de a vida dizer que era hora de mudar, de buscar novos caminhos. Talvez não fosse tarde para reencontrar a Luísa que ela costumava ser.

No dia seguinte, foi para o trabalho como sempre. Mas algo havia mudado. Não no escritório, mas dentro dela. E isso, ela sabia, era o começo de algo novo.

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