O relógio da estação marcava 17h45. Maria Clara estava ansiosa, mexendo no celular sem realmente prestar atenção na tela. O trem para o centro da cidade chegaria em cinco minutos, mas sua mente estava em outro lugar. Ou melhor, em outra pessoa.
Ela havia conhecido Davi duas semanas antes, quando ele acidentalmente esbarrou nela na saída da biblioteca. Ele estava tão envergonhado que mal conseguiu pedir desculpas, mas aquele momento desajeitado acabou levando a uma conversa sobre seus livros favoritos. Desde então, eles começaram a se encontrar regularmente, sempre na estação, onde conversavam e riam até o trem chegar.
Davi era diferente de qualquer pessoa que Maria Clara conhecia. Ele tinha um jeito descontraído, uma risada fácil e um brilho nos olhos que parecia iluminar qualquer lugar. Ela, por outro lado, era mais tímida, preferindo livros a festas, e sempre se sentia um pouco deslocada em meio à multidão.
Às 17h47, Davi apareceu na plataforma, ofegante e carregando uma pequena sacola. Ele sorriu ao vê-la e acenou de longe. Quando se aproximou, estendeu a sacola para Maria Clara.
— Para você.
Ela abriu a sacola e encontrou um pequeno livro com a capa desgastada. Era uma edição antiga de O Barbeiro de Sevilha
— Eu lembro que você disse que queria ler esse livro, mas não encontrava em lugar nenhum. Achei em um sebo hoje de manhã.
Maria Clara ficou sem palavras. Era um gesto tão simples, mas tão cheio de significado. Ela segurou o livro com cuidado, como se fosse um tesouro, e olhou para Davi.
— Obrigada. De verdade. Isso significa muito para mim.
Davi deu de ombros, mas o leve rubor em suas bochechas entregava que ele também estava emocionado.
— Eu só queria te ver sorrir.
O trem chegou, e a plataforma ficou mais agitada. As pessoas entravam e saíam apressadas, mas Maria Clara e Davi pareciam estar em um mundo à parte.
— Você vem? — perguntou ela, já perto da porta.
Davi hesitou por um segundo, então sorriu.
— Hoje não. Vou esperar o próximo. Quero que você aproveite o livro sem distrações.
Maria Clara entrou no trem, ainda segurando o presente. Antes de as portas se fecharem, Davi se inclinou e disse:
— Até amanhã.
Enquanto o trem partia, Maria Clara abriu o livro. Na primeira página, havia uma anotação: "Para Maria Clara, a pessoa que fez minha vida ganhar cor. Com carinho, Davi."
Ela sorriu. Não era um amor grandioso, digno de filmes ou romances épicos, mas era o início de algo especial. E isso era mais do que suficiente.
Show!
ResponderExcluirOs contos voltaram também! Que bom!
ResponderExcluirMuito bom!
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