Era final de tarde no Rio de Janeiro, e o céu alaranjado começava a escurecer sobre a Linha Vermelha. O trânsito estava carregado, como sempre, mas ninguém prestava atenção no sedã preto que cruzava as pistas em alta velocidade, cortando os carros como uma navalha. No volante, Júlio Rocha segurava firme o couro desgastado do volante, o coração batendo mais rápido do que o motor do veículo.
— Dá pra ir mais rápido? — gritou Dudu, seu parceiro, olhando nervoso para o retrovisor.
Atrás deles, três viaturas da Polícia Civil seguiam em perseguição cerrada, as sirenes explodindo em um coro de caos. Júlio era conhecido nas ruas como “Rochinha”, um piloto de fuga que raramente era pego. Mas aquela noite era diferente. Alguém os havia dedurado, e o assalto ao carro-forte em São Cristóvão tinha dado muito errado.
— Fica quieto! — Júlio respondeu, desviando de um caminhão com um movimento arriscado. As rodas cantaram, quase jogando o carro para fora da pista.
Os policiais da frente, liderados pela inspetora Camila Dias, não tiravam os olhos do sedã. Ela segurava o rádio enquanto gritava instruções:
— Atenção, cerquem a saída 8! Eles vão tentar pegar a Dutra pra fugir!
Camila conhecia o perfil de Júlio Rocha. Ele era rápido, mas não pensava a longo prazo. Um criminoso com habilidade no volante, mas pouca estratégia.
Júlio viu as viaturas se aproximando. O combustível estava no fim, e o carro começava a falhar.
— A gente não vai conseguir! — Dudu berrou novamente, tirando uma pistola da cintura.
— Guarda essa arma! Se você atirar, a gente vira peneira! — gritou Júlio, com os olhos fixos na estrada. Ele tinha um plano: pegar o viaduto que cruzava o Complexo da Maré e sumir pelas vielas. Ninguém conseguiria segui-los por lá.
Mas Camila antecipou o movimento.
— Atenção! Eles vão cortar para a Maré. Dois carros seguem na retaguarda, o resto bloqueia as entradas!
As sirenes aumentaram, e Júlio percebeu que estava encurralado. Ele virou o volante bruscamente, saindo da pista principal e entrando em uma rua estreita e mal iluminada. As pessoas nos arredores correram para dentro de casa ao ouvir os pneus cantando. O sedã preto guinchava a cada curva fechada, raspando nos muros de tijolo.
— É agora ou nunca! — disse Júlio, vendo a última saída antes do carro morrer de vez.
Mas Camila foi mais rápida. O som de um helicóptero da polícia ecoou acima deles, e a luz do holofote iluminou o carro em fuga.
— Acabou, Rocha! — gritou Camila pelo rádio. — Sai do carro com as mãos para cima!
Júlio freou bruscamente, derrapando até o carro bater num poste. O impacto fez o airbag disparar, deixando tudo em silêncio por um instante. A porta do lado do passageiro abriu, e Dudu saiu correndo, só para ser derrubado por dois policiais que surgiram na esquina.
Júlio abriu a porta devagar, com as mãos erguidas. Ele estava cansado, sujo e sabia que não tinha mais para onde ir.
Camila se aproximou, arma em punho.
— Até que enfim te peguei, Rochinha.
Ele sorriu, com um corte no lábio.
— Não foi por falta de tentativa.
Camila fez um sinal para os outros agentes algemarem-no. Enquanto ele era levado, as luzes vermelhas e azuis das viaturas refletiam nas paredes da favela. Júlio olhou para o céu, que agora estava escuro, e pensou no quanto aquela liberdade momentânea havia valido a pena.
Naquela noite, as ruas ficaram mais silenciosas. A perseguição havia acabado, mas para a polícia e os criminosos, aquele era apenas mais um capítulo de uma guerra que nunca terminava.
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