segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

CRÔNICA: COINCIDÊNCIAS DO DESTINO

Rio de Janeiro, 14 de janeiro de 2018.


Domingo de sol adivinha pra onde nós vamos... não, eu não aluguei um caminhão, muitos menos vou levar a família para a praia de Ramos, mas o destino era a terra do samba carioca: Madureira!

Contudo, nada de samba, a programação era cinematográfica, conferir os últimos lançamentos do cinema mundial.

O dia seria normal e agradável, se não fosse uma particularidade do dia.

Poderia dizer que foi o fato de deixar 8 Pokémons em 8 estádios diferentes ao longo do caminho para o shopping em Madureira, ou mesmo ter perdido um Venusaur por uma fração de segundo.

Quem sabe o fato de todos os ônibus que peguei (total foram 03) estarem sem ar condicionado funcionando, apesar de ter o equipamento.

Também poderia ser o fato das pessoas serem mimizentas, podendo andar como um hipopótamo manco nos corredores do shopping (apesar de magra), se espalhando para todo o lado, mas quando vc esbarra, não importa, pode pedir desculpas mil vezes, mas a pessoa vai fazer escândalo, tudo para exercitar o mimimi.

A culpa deve ter sido minha, um touro numa loja de porcelana.

Na verdade não, tudo isso foi pormenorizado. Até a sessão foi tranquila e o filme era de boa.

O que chamou atenção foi a volta pra casa.

Sou carioca, vivo no Rio de Janeiro, não tenho problema algum de rodar a minha cidade ou as vizinhas de buzão. Contudo, trabalho pra caceta e em certos momentos não vou ficar esperando a boa vontade das empresas de ônibus, dos motoristas ou mesmo do caminho.

Dito isto, voltei pra casa de carro, chamando pelo aplicativo.

Sabe aquelas coincidências do destino? Pois é, elas acontecem.

Não sei o que acontece, mas, aparentemente, as pessoas sentem vontade de contar as suas vidas pra mim. Será que eu gero confiança?

Bom, eram 24 km para a minha casa, então uma boa conversa sempre é bom.

Rodrigo foi o motorista daquela noite. Militar como profissão principal, motorista para complementar. O que temos em comum? O dia do nascimento.

Para aqueles que acreditam em signo e mapa astral, só digo uma coisa: a igualdade ali era só no dia e mês do nascimento.

Os 30 minutos que conversamos foi suficiente para ver que não eramos parecidos em nada. Contudo, as coincidências não ficaram somente na data do nascimento.

Rodrigo estava passando por uma situação complicada perante o nosso judiciário e, por acaso do destino, sou advogado.

Não, ele não me contratou, muito menos estava enrolado com a justiça, pelo menos não diretamente.

Ao saber da minha profissão, meu xará de aniversário veio me contar a triste situação de sua mãe, uma pessoa que sofre de esquizofrenia e que se encontra há 06 meses presa na Penitenciaria de Bangu.

A esquizofrenia é uma desestruturação psíquica que faz com que a pessoa perca a noção da realidade e não consiga mais diferenciar o real do imaginário.

Ele me contou que sua mãe morava com o namorado e as filhas deles. Pessoas que se aproveitaram da situação dela para infernizar-la. A situação chegou ao ponto que a mãe dele deixou de tomar os remédios necessários para o seu controle, ocasionando um surto que culminou num incêndio provocado pela senhora.

O delegado não pensou duas vezes e encaminhou a senhora para o presídio. Não verificou o estado mental dela, o que poderia ser facilmente atestado, segundo o relato do meu motorista temporário.

Aparentemente Rodrigo não estava na cidade no momento da ocorrência, provavelmente isso facilitou a ação dos provocadores.

E o que ele tem feito nesses 06 meses? Vem batendo as portas da Defensoria Pública na tentativa de conseguir a rápida solução do caso da mãe, para que, pelo menos, ela receba o tratamento adequado.

O melhor seria ele procurar um advogado particular? Na atual conjuntura do serviço público brasileiro, sim. Eu já tinha em mente o nome de um colega para indicar, pois não atuo na área, mas o problema é a falta de recursos para isso. Um advogado criminalista pode ser caro e Rodrigo demonstrou que já havia procurado e realmente não tinha condições.

Assim, o jeito era ficar na mão do estagiário da defensoria, porque o defensor nunca atende.

O tempo estava passado e o judiciário estava caminhando a passos de tartaruga, como sempre. Segundo ele, somente após uma perícia médica o caso andaria, apesar de ele já ter apresentado um laudo, emitido por um médico militar.

Ao chegar ao meu destino, nada foi pedido. Ele não quis consulta, não quis advogado particular de graça. Acho que era só o momento de desabafar e, como disse, aparentemente sou bom nisso, sendo mais uma história que permeará minha cabeça.

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