Há algo de profundamente poético em uma viagem de carro. O motor ronrona como uma canção constante, e as paisagens passam pela janela como cenas de um filme improvisado. Naquele dia, o destino era incerto, mas o objetivo era claro: fugir da rotina, sentir a liberdade de uma estrada aberta e explorar o desconhecido.
O carro era um modesto sedã, já com sinais de desgaste — pequenos arranhões na lataria e uma luz do painel que insistia em acender sem razão aparente. Mesmo assim, era um companheiro fiel, sempre pronto para mais uma aventura.
Com o porta-malas carregado de bagagens desnecessárias — afinal, por que levar cinco pares de sapatos para um fim de semana? — partimos antes do nascer do sol. O mundo parecia dormir, e havia algo de mágico em ser o único a desbravar o asfalto silencioso.
Logo, a monotonia da cidade ficou para trás. As ruas cinzentas deram lugar a uma paisagem viva: campos verdes que se estendiam até onde a vista alcançava, montanhas que pareciam tocar o céu e pequenos riachos que serpenteavam como se quisessem nos acompanhar.
A trilha sonora era variada. Do rádio, ora saía um clássico do rock, ora uma balada sertaneja que fazia os dedos tamborilarem no volante. Entre uma música e outra, surgiam conversas sobre tudo e nada: "Você já pensou em como seria viver em um lugar assim, no meio do nada?" ou "Lembra daquela vez que o carro quebrou no meio da estrada?".
Cada parada era uma descoberta. O posto de gasolina com café forte e bolos caseiros. A vendinha que parecia ter saído de outra época, com seu dono, um senhor de barba branca e olhar gentil, vendendo mel fresco e doces de compota. A trilha improvisada para um mirante que revelava uma vista de tirar o fôlego.
E, claro, os imprevistos. Aquele GPS teimoso que nos levou para uma estrada de terra esburacada. A chuva repentina que tornou a paisagem ainda mais bonita, mas transformou a viagem em um desafio. E a troca de pneu sob o olhar curioso de vacas que pastavam à beira da estrada.
No fim do dia, quando o sol começou a se despedir em tons de laranja e rosa, percebemos que o destino era apenas uma desculpa. A beleza estava no caminho, nos momentos compartilhados, nas risadas e nos silêncios confortáveis.
Ao estacionar o carro no pequeno hotel de beira de estrada, cansados, mas felizes, ficou claro que viagens de carro são mais do que deslocamentos. São jornadas internas, onde redescobrimos a alegria das pequenas coisas e a poesia escondida nos detalhes da vida.
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